Meu sabiá foi embora.
Me deixou triste, apaixonado.
Não adianta perguntar por ele.
O bem-te-vi nem me dá bola.
Nem quer saber; tem ciúmes do sabiá...
Ele não sabe cantar...
O canário da terra me esnobou:
- Sabiá?!!! Nem me viu...
Passou por aqui um curió orgulhoso:
- Eu dobro o canto dele...
E eu pensei mas não é tão bonito, nem me encanta tanto...
Este pardal nem adianta perguntar, ele não tem nem alma.
Mas meu sabiá tinha e tem alma e canto
E voa tanto e canta tanto.
Não adianta dar psiu.
Ninguém viu meu sabiá...
Que saudade que me dá...
E este irrequieto beija-flor?
Bem que poderia levar um recado: "volte amigo!!!"
Ele era tão bonito.
Nem uma FOTO restou.
Eu tirei as árvores do quintal e não sabia que o meu sabiá vinha de tão longe, do hemisfério norte, para namorar no meu quintal.
Meu quintal!???
Meu sabiá!!!???
Só agora, triste, descobri que o sabiá nunca foi meu.
Muito menos o "meu quintal".
PAULO CABRAL TAVARES