Estou regando minha planta aqui na varanda.
Ela estava amarelando algumas folhas no seu caqueiro.
Eu me descuidei um pouco.
Mas já dá sinais de melhora.
A hortênsia é linda.
Desde menino sou apaixonado por ela, azuis, cor de rosa, de qualquer cor.
Ah! Não sei como minha filha escapou de se chamar Hortênsia.
De qualquer forma ela, minha filha, é uma flor para mim.
Lembra as rosas, as hortênsias, as dálias, as violetas. Todas elas.
As flores do meu jardim etéreo que eu nunca chego a colher. Morrem de velhas no meu espírito. Enfeitam o meu jardim da alma.
Eu não quero que minha hortênsia morra.
Nem qualquer das plantas dos meus caqueiros.
Mesmo esta rosa do deserto.
Eu vou ter paciência para a ver florir.
Vou regá-la todos os dias e vou conversar muito com ela.
Dizem que as flores nós escutam.
Espero que sim.
Pois eu vou lhe contar muitas coisas.
Vou lhe falar deste medo de morrer.
Do meu desejo de continuar escrevendo poemas por algum tempo.
De buscar ainda ser feliz.
De fazer felizes as pessoas que eu amo.
E que com algum poema eu possa, mesmo que em pequena escala, tornar melhor a humanidade.
Eu descuidei também de mim.
Sei que algumas folhas andam meio amarelecidas.
Mas vou cuidar delas.
Vou regá-las também todas as manhãs.
E que, mesmo na velhice, esta velha árvore, possa dar brotos novos.
E possa, com a força dos novos sentimentos, redescobrir a vida
Amém.
Paulo Cabral Tavares