Quando criança me deram de presente um casal de periquitos belgas.
Era assim que a gente os chamava.
Passarinho besta.
Embora tenha asas não sabe voar.
E um deles fugiu da gaiola e caiu no rio.
Eu quase morri afogado para salvar o meu passarinho que apesar de tão bonito, é um passarinho besta que não sabe voar e, muito pior, não sabe nadar nem cantar.
Mas é lindo.
Certa vez um amigo meu me deu um canário australiano. Parece também que não sabe voar. Mas canta bonito demais.
E cantava tanto e tão alto que angustiava minha mulher e eu tive que dar de presente meu canário australiano que cantava preso na gaiola.
Triste sina dos canários australianos que apesar de cantar tanto e de serem tão bonitos não sabem voar.
Estes gringos não sabem de nada.
É por isso que eu gosto do canário da terra. Brasileirinho. Da cor da camisa das nossas seleções.
Que é tão bonito e canta tanto.
E encanta tanto.
Mas também se acostuma ao cativeiro.
Faz seu ninho dentro da gaiola e ali tem os seus filhotes. Não abandona a companheira. Nem os filhotes.
E por isso canta prisioneiro.
Sai algumas vezes para brigar com um suposto rival.
Mas, à noite, volta sempre para a sua casa, a sua prisão.
A sua doce prisão.
Eu acho que muitos de nós, embora não saibamos cantar e muito menos voar, somos canários australianos, periquitos belgas e canários da terra que podemos alçar pretensos voos, mas sempre voltamos para o nosso ninho à noite.
Mesmo que a gente pense que não existam correntes que nos aprisionem, estamos mais presos que os canários e os periquitos australianos aos laços que criamos na vida.
Por invisíveis laços, muitas vezes de ternura.
Paulo Cabral Tavares.
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