Evangélica, ela abriu um sex shop e vende para fiéis: "Não é pecado"

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"Me chamo Gislaine Brito, tenho 42 anos, sou evangélica e moro em Campo Grande (MS). Até o início de 2020, eu trabalhava em uma loja de artigos de luxo, mas não estava satisfeita com o meu emprego. Pedi demissão e com minha filha Bruna, de 25 anos, que é enfermeira, decidimos abrir um sex shop. 

Para mim, foi uma redescoberta e agora amo o que faço. Como todo empreendimento, no começo, enfrentamos um pouco de dificuldade. 

O primeiro foi o fato de termos aberto a loja em uma semana e na seguinte tudo fechou no comércio por causa da decretação da quarentena na pandemia. O segundo maior desafio foi pelo fato de eu ser evangélica e sofrer até hoje com preconceito e olhares tortos dentro da igreja.

"Nesse negócio, não para ter vergonha" O terceiro problema que enfrentei a abrir meu negócio é que eu não entendia nada de sex shop. 

No dia da inauguração, a primeira cliente entrou na loja e me perguntou se eu tinha algum plug anal, mas não sabia nem o que era. Precisei começar as estudar os produtos. A internet ajudou muito, tanto na pesquisa quanto na divulgação da loja e venda dos produtos.

Aprendi o que sei hoje estudando muito sobre os produtos. Vivia com os livrinhos lendo por aí. Não sabia qual gel esquentava ou esfriava.

Como sou solteira e evangélica, eu apenas vendo e não uso. Então, leio muito para saber o que estou comercializando. Como tenho feedback dos clientes, fico sabendo como é o produto. 

Tenho uma relação de trocas muito boa com meus clientes. Certa vez uma mulher chegou comigo e disse que precisava comprar um espartilho. Em determinado momento, começou a chorar e suplicou para eu salvar o casamento dela. Eu parei e pensei no que poderia fazer. Comecei a conversar com ela e refletimos juntas. 

Mesmo sendo um sex shop, cada dia é um aprendizado e um processo de troca com os clientes porque procuro conversar e tentar quebrar tabus. 

Quando um homem vem comprar para a esposa, sinto uma fecidade, pois geralmente é a mulher que nos procura para agradar o marido. 

Fico gratificada quando é o homem que toma iniciativa e aparece na loja depois de a esposa dele relatar que ajudei a quebrar certo tabu.

"Irmãos da igreja desaprovam, mas também compram".

Ainda enfrento preconceito. Um irmão já chegou para mim e disse que isso não era coisa de uma serva de Deus, pois sempre usei saia e vestidos. 

Na loja, como também vendemos roupas, comecei a tirar algumas fotos com shorts e blusas de alcinha, fazendo esse irmão ligar para falar que não estava tendo uma postura de evangélica. 

Eu respondi que a loja era da minha filha e precisava ajudá-la porque ninguém iria até nossa casa dar um quilo de carne de graça ou pagar nossas contas.

Teve outro caso, envolvendo uma mulher que eu considerava como muita amiga na igreja. Ela passou a comentar que eu havia "batido o cabeção", uma expressão que queria dizer como se eu estivesse louca, algo assim. Me machucou e chorei bastante porque não esperava isso dela.

Quando uma matéria sobre o sex shop saiu em um veículo, no culto seguinte, ao entrar na igreja, todo mundo ficou olhando de um jeito muito estranho. Mas eu nem dei bola. Entendo, em partes, porque é um tabu que precisa ser quebrado. É a crença deles. Mas não é pecado.

Como sou solteira e vendo esses produtos, até colocaram o apelido de "Biscatão" em mim na igreja porque também estou sempre bem bonita e arrumada. Gosto muito de ajudar e tenho muito temor a Deus. Isso é o que importa.

Penso que devemos ter temor a Deus e não às pessoas. Não adianta estar de roupa de crente e a língua ser maior que a boca. Quando minha filha me convidou para abrir, tomei um choque porque não sabia de nada sobre o mercado, porém agora já sei muita coisa.

 A internet salvou a loja neste período da pandemia. Comecei a publicar na internet e fazer vídeos, o que fez o nosso empreendimento crescer. Entendi que é um mercado que não se pode ter vergonha." Gislaine Brito, 42 anos, empreendedora do mercado erótico, em Campo Grande (MS).


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